A matéria de hoje é muito inspiradora, estou muito feliz em compartilhar um conteúdo especial como esse. Sobre a marca de roupas Amar.te Brand, que produz roupas inclusivas.
Ana Carolina Andrade é advogada, professora, pesquisadora e fundadora da Amar.te Brand, uma marca de roupa humanizada e inclusiva, onde busco pautar a inclusão em todos os processos e produtos da empresa, visando atender à pluralidade de corpos nas suas mais diversas formas de ser ou estar, pois acredito que quando pensamos em um mundo mais inclusivo, pensamos num mundo para todos.
Ana Carolina vai estar em Francisco Beltrão na Expofeira Mulher, em março. O Talk Show será a oportunidade para nós conhecermos mais sobre a diversidade e inclusão das pessoas, através da moda. Ela escreveu sobre a moda inclusiva, um texto muito rico e interessante para quem busca conhecer mais sobre esse mercado.
Por que é importante falar sobre moda inclusiva?
Desde sempre as pessoas com deficiência foram excluídas do convívio social, e consequentemente do econômico. Com as lutas sociais e as recentes leis inclusivas cada vez mais evidenciaram as necessidades e direitos das pessoas com deficiência. Falar sobre Moda Inclusiva é dar visibilidade a corpos invisíveis na moda.
Pessoas com deficiência no Brasil
Na falta de dados mais atualizados, de acordo com Censo 2010 do IBGE, aproximadamente 24% da população brasileira é composta de pessoas com deficiência, em torno de 45 milhões de pessoas, ou seja, um quarto da população brasileira tem algum tipo de deficiência e não são vistas como consumidoras.
Segundo dados do Censo 2010, as deficiências relacionadas à visão são as mais recorrentes no Brasil, 18,6% da população brasileira possui algum tipo de deficiência visual. Desse total, 6,5 milhões apresentam deficiência visual severa, sendo que 506 mil têm perda total da visão (0,3% da população) e 6 milhões, grande dificuldade para enxergar (3,2).
Pessoas com deficiência no mundo
Quando buscamos dados mundiais referentes ao número de pessoas com deficiência, os números surpreendem, chegando a 1.2 bilhão de pessoas, segundo dados das Nações Unidas (ONU), evidenciam que 46% das pessoas com 60 anos ou mais têm algum tipo de deficiência, uma entre cinco mulheres de qualquer faixa etária poderá sofrer com alguma condição, enquanto 1 entre 10 crianças tem uma deficiência.
Outro dado importante refere-se as pessoas que precisam utilizar cadeira de rodas para se locomover, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 65 milhões de pessoas deveriam ter acesso ao meio de locomoção, mas apenas 5% a 15% de fato tem acesso a cadeira de rodas.
Além da ausência dos meios necessários para vivermos numa sociedade mais inclusiva, e de todas as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência, aquelas que conseguem ultrapassar todos os obstáculos, se veem esquecidos, inviabilizados pelo mercado da moda.
A roupa quando não é pensada e desenvolvida visando atender à universalidade de corpos, se torna um desafio, seja na hora da compra e/ou na hora do vestir/despir, o que poucas pessoas sabem é o quanto o vestir pode ser dificultoso e demorado, podendo levar até 2 horas para troca de roupa.
Quando as marcas utilizam recursos de acessibilidade nas suas mais diversas etapas, processos e produtos, possibilita autonomia dos consumidores e facilita o dia-a-dia de todas as pessoas, sejam elas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, sejam elas cuidadoras, sejam elas pessoas sem deficiência que buscam praticidade diária.
Lembrando que pessoas em qualquer fase etária podem experienciar os mais diversos tipos de deficiência, bem como, redução em sua mobilidade, dificuldade de coordenação motora, casos como estes são comumente associados a idosos, mas qualquer um de nós, em qualquer momento da vida podemos vivenciar de maneira mais direta a importância da acessibilidade para termos uma sociedade inclusiva.
Com base na escassez de produtos acessíveis e a falta de inclusão no mundo da moda, e obviamente visando o mercado promissor da moda inclusiva, algumas marcas têm lançado coleções cápsulas buscando atender à pluralidade de corpos, porém muitas destas ações são vistas como atitudes temporais e não um compromisso real com a inclusão.
Já que a moda é uma forma de expressão e deve ser acessível a todos os corpos, e não só alguns, ou algumas fatias da sociedade, devemos trabalhar com o propósito de transformar a Moda Inclusiva em simplesmente “Moda”.
A potência da Moda Inclusiva!
De acordo com a reportagem, “The U$ 400 billion adaptive clothing opportunity”, na Revista Vogue Business, o mercado da moda inclusiva mundial movimentará mais de U$ 400 bilhões de dólares nos próximos 4 anos, tornando um mercado promissor e lucrativo.
Além disso, o poder econômico das pessoas com deficiência está estimado em U$ 3 trilhões de dólares, e quando consideramos seus familiares, este valor ultrapassa U$ 8 trilhões de dólares.
Espera-se que o movimento mundial em prol da moda universal e inclusiva, faça com que mais marcas enxerguem o público diverso do que até hoje foi considerado padrão como potenciais consumidores e assim passem a desenvolver produtos para atender a todos.
Afinal, fazer moda para todos deveria ser um compromisso social de todas as marcas.
Como fazer a moda mais inclusiva?
Alguns exemplos de como fazer uma roupa universal:
- As roupas devem ser confortáveis ao se sentar, ou permanecer sentada por muito tempo, sem que o tecido, aviamentos, costura ou algum detalhe o incomode.
- Seu fechamento deve possuir adaptações de forma que seja de fácil manuseio para todos, de preferência frontal utilizando botões imãs ou zíper com cursores maiores.
- O Tags contendo QRcode tátil que descrevam as cores e detalhes da peça, e etiquetas em braile são componentes importantes na confecção final das peças.
- Para uma melhor acessibilidade do site é fundamental que ele contenha:
- Audiodescrição das imagens.
- A descrição detalhada das peças.
- Tradução em libras.
- Leitor de tela e lupas que aumentem a fonte e mostrem as peças com detalhe.
- A descrição das Imagens nas Redes Sociais é uma ferramenta essencial para que todos tenham acesso ao produto.
- Utilizar o recurso texto alternativos nas redes sociais, o qual permite você transformar imagens em palavras.
- Vídeos/Stories contendo legendas facilitam a compreensão.
Lembre-se sempre de incluir representatividade no marketing de sua empresa, ou seja, pessoas com deficiência usando suas roupas, mostrando como vesti-las ou falando sobre moda.
Estes são os principais passos para você ter uma marca mais inclusiva e universal, que atenda às necessidades das mais diversas formas de ser ou estar.