“Sentado no comboio a esperar a estação de destino, deparo-me com uma das cenas mais inspiradoras que alguém poderia ter numa manhã de quarta-feira: um reencontro de amor.
Não posso com certeza afirmar quanto tempo durou a distância entre os dois reencontrados: um ano, dois meses, ou apenas alguns dias. O que posso dizer é que aquele reencontro rendeu-me uma alegria duradoura, ainda que como mero observador.
Quando os olhares se encontraram, não pude conter o meu próprio sorriso.
Ele abriu os braços, deixou o jornal cair no chão e esperou que ela viesse para o seu velho regaço. A mala ficou para trás e o importante naquele momento, já não era o comboio, as pessoas, o mundo ou o tempo. O amor pulsava como se estivesse personificado ali à minha frente.
Quando o já ansiado e ansioso abraço se deu, os olhos fecharam-se, um silêncio ensurdecedor tomou conta do lugar e foi possível ver uma luz inebriante que emergia dos amados abraçados, do reencontro esperançado. Os olhos fecharam-se, nada existia senão os dois. Estava ali, diante de mim, e de quem mais quisesse ver, o abraço mais amoroso do mundo.
Ele abriu devagar os olhos e deles, agora, escorria uma lágrima tímida, mostrando o alívio da dor da espera, como se tivesse sido a primeira distância e a última saudade.
Ela, de costas para mim, impediu-me de ver a reação do seu rosto, mas já não era necessário mais nada para construir aquele momento. A partir dali, a mala seria carregada pela mão direita, pois a esquerda estaria em busca do seu par.
De mãos dadas e braços entrelaçados, o casal desceu as escadas com uma felicidade contagiante e contaram-me uma história de amor, sem palavras ou sons”.
Crônica: O Reenconto – Pedro Sampaio Minassa
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