O que é bonito no amor não são o chamego, os beijos estalados, os abraços trocados, os amassos. Se bem que não deixem de ser demonstrações válidas desse sentimento tão cantado em verso e prosa, em línguas e todas as formas de arte.
Talvez o bonito mesmo do amor seja sua capacidade de resistência, sua coragem, resiliência, seu sacrifício e renúncia. O bonito do amor é desaprender o egoísmo, gastar-se até as últimas consequências, aprender o desapego e ser fiel à lealdade.
Dissolver no tempo o ciúme, afundar o ego nas águas da alma, que lavam e levam o que não se aproveita, tornando leve o pesado e destruindo enganos para reconstruir verdades.
Amar assim é humano, embora pareça divino. E é divino a despeito de toda nossa frágil, débil e insana humanidade. Amor assim é asa de anjo, é Natal em janeiro, é Páscoa em todo o calendário.
Amor assim faz viver 100 anos, embora já tenha feito gente morrer bem moça.
Amor assim já transformou miséria em riqueza, resgatou o perdido, ressuscitou desiludidos. Amor assim já foi bilhete de partida, adeus sem volta, e muita gente sozinha sabe contar essa história, acredite. Mas também já entregou muito bilhete para viagens lindas pela estação paraíso na terra. Vai entender…
Certo é que amor de verdade, na impossibilidade do encontro, muitas vezes é renúncia e saudade.
Se você já amou de um amor assim, sabe bem que o sim também pode ser nunca mais. O nunca, um reencontro que mora logo ali no para sempre de um dia a mais.
Bonito é que nada neste mundo, nem em outros, possa dar fim a um amor assim.
Miryan Lucy Rezende
Fotografia da capa: Leila Lindiana