Cartas de Amor

Ando revisitando filmes antigos e uma grande maioria tem em seu roteiro cartas e bilhetes escritos por pessoas que amam muito e verdadeiramente.

Primeiramente, um filme que marcou muito desde o seu lançamento – As Pontes de Madison (1995), após a morte de Francesca Johnson (Meryl Streep) seus filhos descobrem, através de cartas que a mãe deixou, do forte envolvimento que ela teve com um fotógrafo Robert Kincaid (Clint Eastwood) da National Geographic, quando a família se ausentou de casa por quatro dias. Estas revelações fazem os filhos questionarem seus próprios casamentos.

Mais leve, no filme Cartas para Julieta (2010), uma carta escrita em 1957 por Claire (Vanessa Redgrave) é respondida por Sophie (Amanda Seyfried) uma voluntária, dando início à busca pelo verdadeiro amor de Claire, que se chama Lorenzo (Franco Nero). O filme tem final feliz, quando os dois já maduram casam e realizam o sonho de uma vida.

Em Sexy on the City – O Filme (2008), Carrie Bradshaw, depois de ser abandonada no altar por Mr. Big, recebe inúmeros e-mails com cartas de amor escritas por grandes homens (Beethoven, Byron e Napoleão, Mozart, Henrique VIII) e a última autoral, escrita por seu grande amor; a tentativa dá certo e eles reatam o romance.

E na vida real, isso acontece ? Sim, posso lhes responder. Estava visitando uma grande amiga, ela arrumando algumas gavetas. Em algum momento pegou um envelope amarelo e para minha surpresa, mostrou que ali estão guardadas há 30 anos, cartas escritas (manualmente) pelo grande amor da sua vida. Confesso, fiquei muito emocionada! Ela me oportunizou a leitura de algumas. A caligrafia impecável, o papel com as marcas das dobras e um pouco amarelado me proporcionaram ter contato com declarações de amor, que eu jurava só existir em filmes. O “seu amado” escreveu “pilhas” de cartas endereçadas à ela, são folhas que contam um amor verdadeiro, em que ele despe a alma, confessa seus sentimentos de modo sincero e verdadeiro, sem vergonha alguma. No papel ele declara que ela é a razão do seu viver, a alegria dos seus dias, sua inspiração! Fazia planos para a vida a dois e contava alegremente os sonhos que realizariam juntos. Poderia relatar muito mais sobre essa troca de segredos que essa “amiga querida” me proporcionou, porém prefiro guardar alguns sem revelar, tamanha é a beleza dessa história.

Bem, o amor quando existe verdadeiramente, me faz acreditar que a pessoa pode estar em qualquer parte do mundo, o sentimento sempre vai existir, constatei isso, conversando com ela. O tempo apenas aquietou o amor – mas, quando menos esperamos ele renasce. Ela mesma confessou, que se vê sempre com o sentimento latente. Drumond diz, e eu acato inteiramente, “o amor é para as pessoas maduras”. O amor nunca é para gente muito jovem. A paixão é jovem; o amor é específico, um privilégio para gente madura como diz o poeta.

Um explicação para o “ato de escrever’ eu encontrei há algum tempo num livro de Mario Sergio Cortella, que transcrevo: “escrevemos, em grande medida para não deixar perder as memórias. Nós temos um desespero em sermos esquecidos, e por isso a gente escreve. Porque não sermos esquecidos nos deixa felizes” – tá aí a razão porque o papel aceita tudo e as Cartas de Amor se materializam.

Atualmente, as pessoas deixaram de escrever manuscritos. Claro, temos o advento das redes sociais, emojis, figurinhas e etc – na minha opinião estão abalando o romantismo. Ao ler tantas cartas de amor e descobrir as histórias que deram origem à elas, penso no quanto não podemos perder a fé no amor e na arte de se expressar.

Escrever cartas ou simples bilhete de amor é se revelar, é desnudar de uma maneira simples e sincera, um amor que ultrapassa vidas. Um sentimento que apenas os protagonistas da história conhecem, talvez seja essa uma de suas maiores provas de amor. Cartas de amor são doces, sinceras e reais. É impossível não se emocionar ao se deparar com uma delas. Concorda?

Encerro com uma carta de Ludwig Van Beethoven:

“Ainda deitado a minha mente suspira por ti, minha Amada Imortal, de vez em quando alegremente, depois tristemente, esperando o Destino, se ele nos ouvir. Só posso viver ou contigo, ou de todo. Sim, decidi estar o mais longe possível, até poder voar para os teus braços e sentir-me em casa contigo, e enviar a minha alma envolta na tua para o reino dos espíritos- sim, lamento, tem de ser. Vais recuperar ao conheceres a minha lealdade; mais ninguém terá o meu coração, nunca- nunca! Meu Deus, porque é que alguém se há-de separar daquela que se ama tanto, sendo a minha vida em W. tão triste. O teu amor fez de mim o mais feliz e infeliz ao mesmo tempo. Na minha idade preciso de alguma estabilidade na vida- mas poderá isso existir para nós? Anjo, acabo de saber que há correio todos dias- devo concluir, para que esta carta te chegue de imediato. Tem calma – ama-me – hoje – ontem. Que saudades em lágrimas por ti – Tu – a minha Vida – meu Tudo – até breve. Oh, ama-me sempre – nunca duvides do coração fidelíssimo.

do teu amado
L.
Sempre teu.
Sempre meu.
Sempre nosso.”

Com carinho,

Flaviana

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