Casa de Vovó

Nos últimos anos cresceu um movimento de decoração de interiores batizado carinhosamente de “casa da vovó”.  Habitações com memória afetiva, de estilo simples e aconchegante, e sobretudo familiar, estão em alta.

Como todo começo de ano é momento de renovar e pavimentar os caminhos para os próximos doze meses. Nessa trilha, poucos espaços são mais fundamentais do que o bem-estar de dentro de casa.

Assim, a decoração estilo “casa de vovó” vem ganhando espaço. Cadeira de balanço, cristaleira de madeira, plantas em profusão, filtro de barro, tapetes de crochê, mantas de sofá, redes e almofadas fofas decoram o espaço. São peças de evidente memória afetiva, de um tempo sem internet, um tempo mais lento e contemplativo que a sociedade moderna subtraiu. Não se trata de romantismo tolo, de celebrar o passado em oposição ao presente, mas atire a primeira pedra quem não tem saudade daquele cotidiano mais pacato, com jeitão de interior — ao modo, enfim, dos pais de nossos pais, dos avós e de nossos pais.

Pode-se medir o interesse pela onda — que se anuncia firme e forte em 2024 — pelo sucesso das hashtags a se espalhar pelo Instagram, palco eletrônico para postar fotos. Uma simples busca por “casa de vó” entrega mais de 500 mil publicações.

Nessa modalidade afetiva de arrumação, a funcionalidade muitas vezes cede espaço à busca por ambientes que costuram lembranças. Vale sobretudo o que a memória informa, a forma e não a função.

É como se, mal comparando, voltássemos a ouvir música em vitrolas e não mais pelo Spotify.  “A ideia de que elegância está atrelada ao minimalismo colonizou nosso olhar”, diz a arquiteta Marina Fontes, fundadora da Hibisco Arquitetura, de Brasília, escritório afeito a manter móveis antigos com zelo, de modo a oferecer um desenho vintage.

Pesquisando um pouco mais, descobri que há uma explicação psicológica pela preferência. “Estamos em um momento de repensar valores e condições de vida, priorizando os vínculos afetivos e reavaliando o sentido do morar como o lugar que nos conecta às nossas raízes”.

Trata-se, portanto, muito mais do que mera afinidade de estilo. Em diversas culturas, como reflexo do acolhimento promovido pela residência dos avós, sonhar com a casa da família tem significado inspirador. Representa o conforto da nostalgia, em que as coisas funcionavam bem, mas também de segurança ante os problemas do dia a dia. É como colo.

Por exemplo, na China, devanear durante a noite com a casa da avó é indício de algo auspicioso, de sorte, prosperidade e equilíbrio na vida. Na Espanha, traduz os laços da memória, a promessa de que as tradições e heranças não serão esquecidas. Não são os objetos isolados, mas o contexto e sua composição harmônica que ditam a atmosfera que buscamos encontrar. Assim são as casas das vovós.

Imagens Reprodução | Pinterest.

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