Hoje, mais uma leitura deliciosa da Júlia Helena Rathier, colaboradora do Blog. Uma metáfora para te fazer pensar sobre Mulher de Palavra, Mulher de Escrita.
Para quem esta conhecendo o trabalho da Júlia, ela escreve para a revista Obvious Magazine aqui, uma coluna intitulada “Sobre tudo sobretudo”.
Aos patronos intelectuais e emocionais de um grande banho de letras.
“Desde muito pequena, posso me lembrar de meus pais dizendo: “Não minta, minha filha. Você deve ser uma mulher de palavra. As pessoas só valorizam quem fala e faz.” Meu pai, contava a história de um instrumento de vaivém. Aquilo que vai emprestado em promessa de voltar, se não volta cedo, não vai mais.
Ninguém acredita em quem não tem palavra e sem confiança fica difícil de viver – simplificava a minha mãe. Entre outros (muitos) ditames, os dois banhavam uma garotinha que mal havia trocado as frutas trituradas pelas papas de sabor, num compromisso de crescer fazendo tudo que falasse. “Esse compromisso vale pra todas as áreas da sua vida mas especialmente, pro que você fizer de melhor”, complementava meu pai.
Aprendi a me alimentar sozinha depois de longos ensaios, a manusear talheres sem me machucar – embora tenha ficado uma fobia de facas . Aprendi a falar, a calar, a prometer ou jurar e também a gritar de arrependimento. Dessa parte, eu nunca conheci alguém que goste muito de falar, porque a verdade é que o ser humano falha, mas sempre com uma grande intolerância a ser contrariado pelo que disse ou calou.
Eu e muita gente, aprendemos a falar e a ter palavra com mais do que compromisso. Entre essas duas coisas, o laço de uma enorme metáfora. Uma imensidão de palavra. Um banquete, eu diria, aos que como eu aprenderam a gostar de comer mais do que deveriam.
Ainda bem, que pra estar minimamente pronto pra encarar as coisas, a gente é lançado avante uma fonte caudalosa de palavras. A travessia a nado, não é destreza de ninguém logo que nasce, mas bons anos e longas experiências movimentam a correnteza a frente, pra nos movimentar concomitantemente.
Hoje, eu, Mulher de Palavra procuro na fartura de significantes, significados, vernáculos, versos, dizeres, costumes, vocais e coros a minha mais ousada força. Ai, que bom ser mulher de palavra! Amar as impressões, causas, verdades que agradeço serem momentâneas pra que depois venham outras. E mais outras. Outrora, outras.
Pra quem gosta de desnudar metáforas, brincar com sentidos e significados eu digo: “Ainda bem que lá em casa, o bebê foi jogado com a água do banho!” Esse banho de letras deles e mais tarde, com o mundo tão meu.
Agora, pai e mãe, eu sou Mulher de Palavra, de poema, de crônica e qualquer coisa que um verso me encorajar a fazer. Prometi escrever e essa promessa eu não quebro, porque se depender desse tipo de banho, eu vou estar no eterno frescor.” Por Júlia Helena Rathier