Fotografia | Leila Lindiana
“De repente, acontece.
A gente se acostuma com o apartamento que não recebe um raio de sol sequer ao longo do dia, e cuja única vista é para uma janela ou a parede do prédio ao lado.
Também se habitua ao emprego que não é exatamente aquilo que sonhávamos, mas tudo bem… Pelo menos, se ganha uma graninha para pagar as contas. O namorado… Pois é, também não é aquele príncipe encantado. Mas tudo bem, melhor do que estar sozinho.
Quando nos damos por conta, já estamos acreditando que, realmente, não há como ser feliz no trabalho e no amor. Sendo assim, acabamos optando por uma realização – às vezes, parcial – em apenas uma faceta da vida, deixando algumas outras bem abafadas e frustradas embaixo do tapete chamado inconsciente.
Conformados, vivemos uma vida rasa, morna, medíocre.
E tudo vai muito bem até que, em um belo dia, a vida tenta nos despertar dessa letargia, e nosso mundinho aparentemente tão tranquilo e estável desaba e dilacera nossas estruturas, nossas crenças e nossa falsa felicidade.
A primeira reação, claro, é nos sentirmos vítimas do universo.
O que não é bem verdade, afinal, somos reféns de nossas escolhas, de opções conformistas, estáveis e absolutamente nada amedrontadoras feitas por nós mesmos.
Romper com velhas estruturas nunca é fácil e o preço da evolução pode parecer muito alto.
Afinal, exige transformações profundas e verdadeiras – e não somente alterações que mascaram uma falta de coragem de mexer e mudar aquilo que é preciso.Admiro muito quem consegue morrer para renascer.
Quem tem coragem de abandonar aquilo que já não serve mais e encarar uma busca por novos conceitos e ideais de vida.
Quem ousa ir atrás da sua própria verdade e entrar em contato consigo, aprendendo a se conhecer, sempre e muito. E, desta maneira, evoluindo conscientemente.
Reverencio aqueles que têm determinação e força para abandonar o velho e conquistar o novo.
Os que conseguem reinventar a si mesmos, levando em consideração apenas a sua essência e aquilo que lhes é verdadeiro.
Transmutar.
E, assim, renascer.
Parir a si próprio. A partir da alma, do centro do ser.
Uma pessoa que se posiciona e se movimenta sem medo de ser fiel à si e com toda a flexibilidade que nossa vida pede.
Ter coragem para mudar, a partir da consciência de quem somos, é a chave para protagonizarmos nossas próprias vidas. E, consequentemente, evoluirmos.
Marília Rizzon, a Lila | Autora, escritora, jornalista.