Everton e o filho Guilherme
Se tornar um colecionar é levar a história do futebol para a sua casa. Despretensiosamente, foi assim que Everton deu início a sua coleção de camisas do Sport Club Internacional, ou simplesmente, Inter. Hoje, ele soma 52 camisas, na sua grande maioria na cor vermelha, suas preferidas. Já chegou a possuir 60, se desfez de algumas camisas brancas e três vermelhas para conseguir comprar peças mais antigas.
Gaúcho de Carazinho, o futebol está intimamente ligado as suas raízes. Everton Maria conta com carinho, que é uma questão de família. O pai era colorado, a mãe também, mas quem mais o inspirou a manter essa paixão, é a avó materna: Vó Rufina. Figura ímpar, nos jogos do Inter ela se transformava, tinha duas grandes paixões: O Inter e o Romário.
Toda regra tem exceção. Everton tem uma irmã colorada e outra gremista. A esposa, Janice é Corintiana e a filha Isabela, dividida entre os times dos pais. Mas, seu filho Guilherme, carrega a mesma paixão pelo time do pai. Everton garante, é de responsabilidade do filho manter o legado da coleção de camisas, que é de ambos.É difícil de colocar uma data com precisão para o início da sua coleção, mas Everton afirma que o ano de 2006 colaborou muito, talvez tenha sido decisivo. Com as conquistas da Libertadores, Mundial e Sul-Americana, de 2006 a 2009, o Inter mudou 4 vezes o seu escudo e isso o motivou a ter as camisas para registrar as mudanças. Confessa, com o passar do tempo, percebeu que tinha mais camisas do Inter que qualquer outro tipo de camiseta.
A primeira camisa da coleção foi a do Mundial Interclubes de 2006. Fato que chama a atenção e conta entusiasmado, A Reebok fornecedora do material esportivo da época, colocou à venda apenas a camisa 1, vermelha. O Inter acabou jogando as duas partidas de branco. Com a conquista do Mundial, o clube mudou o escudo, o modelo da camisa que o Everton tem, nunca foi usada em campo. Uma preciosidade. Para um colecionador sempre tem aquela peça que é importante, para o Everton sem dúvida é a camisa da Libertadores de 2006. E como o mundo é pequeno, o Campeão Mundial de 2006 pelo Inter, Wellington Monteiro, jogou no Clube Esportivo União (2016/2017), aqui em Francisco Beltrão. Graças ao amigo Arnaldo Galina, conheceu e fez amizade com o Wellington. Everton conta que em 2016, o Inter organizou um jogo festivo para comemorar os 10 anos da conquista da Libertadores e reuniu o elenco campeão de 2006. Pediu, então para Wellington se ele faria o favor de pegar autógrafos dos jogadores, ele prontamente atendeu seu pedido. Graças a ele, possui uma camisa autografada pelo time campeão da Libertadores de 2006.Outro fato super bacana que aconteceu, é que até seu concunhado, Claudio F. Ribeiro, se esforçou para aumentar sua coleção. Presenteou Everton com um exemplar que o Inter usou em 2009. Mas, presta atenção meu povo, Claudio observou um homem vestindo a camisa, enquanto trabalhava na descarga de materiais. Pediu se a pessoa queria vender, comprou a camiseta, presenteou o cunhado com a camisa, que é toda autografada pelo elenco campeão da Libertadores de 2010. Essa tem um lugar especial na coleção.
Everton tem algumas metas para alcançar como colecionador. Quer somar a sua coleção as camisas dos anos 80; fabricadas pela Lec Coq Sportif (1982/1983), Olympikus (1984/1986), Perusso (1987) e Umbro (1988/1994). Seu sonho são as camisas do Inter fabricadas pela Adidas na década de 70, elas representam a conquista do Tri Campeonato Brasileiro. “Uma honra ter esse manto na minha coleção”, diz o colecionador. Pedi para o Everton contar um fato interessante sobre a sua trajetória como torcedor Colorado. Eis, que ele me surpreendeu com tamanha paixão pelo time. Na alegria e na tristeza! “Em 2006, no 2° jogo da final da Libertadores, após o empate do São Paulo aos 40 minutos do 2° tempo, o Inter estava com um jogador a menos. O São Paulo estava muito próximo de virar o jogo e levar o jogo para a prorrogação. Fiz uma promessa para Nossa Senhora da Salete, se o Inter conquistasse o título, eu levaria uma camisa do Inter, a pé, até o Santuário Nossa Senhora da Salete em Renascença. Bom, foram quase 30 km de uma gratificante caminhada.” Ter uma coleção de camisas vai muito além de um investimento financeiro. Para um colecionador cada peça agrega histórias, sentimentos e muito conhecimento – muito se aprende por meio das camisas de futebol. Quem é aficionado por futebol desde cedo sabe o tanto que se aprende sobre temas como geografia e história por meio do esporte. As camisas têm esse poder. As cores vão remeter a algum evento ocorrido na cidade que o seu clube jogou, o escudo tem um ou muitos significados que mal sabíamos que existia. Por isso, tentar dar um valor específico a uma camisa é, talvez, um dos exercícios mais difíceis para um colecionador. Não dá para taxar algo que carrega sentimento, que tem uma história afetiva envolvida. E isso não importa se é com a camisa do último titulo ou se é a camisa que você encontrou remexendo um cesto de promoção em alguma loja de material esportivo. Se a camisa for obtida em uma viagem, na loja oficial do time, então…. que preço (não) teria? Como diria o treinador escocês Bill Shankly, futebol (e seus uniformes, claro) não é uma questão de vida ou morte. É muito mais. Só quem é um colecionador entende!
Fica aqui meu agradecimento e minha admiração ao Everton Maria, colecionador apaixonado pelo Internacional e ao seu filho Guilherme que segue com orgulho os passos do seu pai, no amor pelo Colorado.Imagens Autorais Everton Maria. Fotografias das camisas: Francisco Luiz Lund Jr, foram realizadas na loja Made Sport, em Francisco Beltrão.