Franciele Schmitz, Psicóloga e minha amiga querida aceitou o convite e a partir desse mês é parceira do Blog. Sempre com muita propriedade, Fran irá nos presentear com um belo e reflexivo texto. Seja bem vida Fran, esse espaço é seu!
Não sou perfeito, mas e quem é?
Uma reflexão sobre o sentimento de culpa de não ter sido tudo…
Estamos inseridos numa sociedade que tem nos exigido sucesso na vida pessoal quanto na profissional. Buscamos continuamente um ideal, muitas vezes nem sabemos exatamente qual é.
Sendo assim, são várias as cobranças para conosco e para com os outros.
Tenho dado atenção a minha família? Tenho estudado suficiente? Tenho acompanhado meu parceiro em eventos sociais? Faço atividades físicas? Minha imagem corporal me agrada? Visito meus pais com freqüência? Tenho tempo para ler livros e aproveitar meus amigos?
Poucas são as pessoas que dirão sim a todas as perguntas. E por dizerem não, muitas se sentem incompetentes, inseguras, frustradas por isso.
Assim, nos sentimos culpados porque entendemos que poderíamos ter feito mais. Quanto maior for o grau de exigência de cada um, mais comum é “admitir seus erros”. Esses erros, que por sua vez nem sempre são reais, geram o sentimento de culpa.
Mas o que é culpa? Culpa é a ideia de ter errado, de ter feito mal. Para alguns estudiosos culpa é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada por nós mesmos sobre aquilo que achamos que deveríamos ter sido. A culpa é considerada um dos piores sentimentos porque mantém o sujeito preso ao passado.
Na infância, aprendemos que devemos sentir culpa e vergonha ao cometer um erro. Na vida adulta, o sentimento de culpa influencia a maneira como o sujeito pensa e respeita a si mesmo. A medida que envelhece, o sentimento de culpa está relacionado, grande parte, a perda da capacidade de realização, a perda da independência, e sobretudo, a necessidade de ajuda do outro.
Ter a sensação que a sua presença dá trabalho, aliado a dificuldade de relaxar e aproveitar as coisas simples e possíveis de serem realizadas no cotidiano, podem desenvolver um sentimento de culpa que desencadeia a necessidade de punição ou ainda, a sensação de infelicidade.
Nesse contexto é importante diferenciar a culpa.
Será que a culpa que sinto é concreta? Fui causadora de alguma situação para alimentar este sentimento ou o que sinto é culpa emocional? Tenho o desejo de me punir por algo que é muito mais imaginário que real?
Existem algumas tarefas neste processo de desenvolvimento que podem reduzir este sentimento:
Aceitação e Adaptação, que é a capacidade do indivíduo aceitar as possibilidades individuais frente as limitações percebidas. Muitas pessoas conseguem ressignificar esse momento sozinhas, outras precisam de auxílio de psicoterapia, por exemplo. A dica é refletir sobre o que posso fazer hoje com as condições que eu tenho para melhorar o agora, o meu dia, a minha vida. “Não sou perfeito, mas e quem é”?
Criar Relações Positivas, entendendo que não é o sentimento de culpa que deve prevalecer, mas o de valorização e acolhimento nessas relações. Aqui vale lembrar que é sempre mais saudável conviver com pessoas alegres, que valorizam a si mesmas do que aquelas que reclamam de tudo em quaisquer circunstâncias.
Manter a Autonomia mesmo frente às limitações. Será que consigo realizar isso que desejo? Ainda que de alguma forma sejamos dependentes de outras pessoas, não há razão para que deixemos outras pessoas pensarem por nós e que nos tornemos totalmente dependentes delas.
Eu me lembro de um depoimento de uma senhora com mais de 60 anos que decidiu tatuar seu corpo. Quando indagada sobre as possíveis críticas acerca da sua decisão, ela responde: “Não me criticam porque meu sorriso chega na frente”.
Então, antes de se culpar pelo que não fizemos ou por aquilo que gostaríamos de parecer, devemos nos adaptar às condições que vão mudando com o tempo, aceitar a fase que se vive e experimentar e testar o que se gosta de fazer. É necessário se reconhecer.
Afinal, viver sem o peso de ser aceito por um ideal é a forma mais saudável de ser…
Franciele Schmitz | CRP 12/16481 | Psicóloga formada pela UFSC com experiência de mais de dez anos nas áreas de recrutamento e seleção, desenvolvimento humano e políticas públicas. Especialista em Gestão Empresarial com ênfase em Pessoas. Atua como gestora na área de cuidado de pessoas e palestrante de diversos temas que envolvem relações interpessoais e comportamento humano.
Trabalhou em empresas como BRF, Parati Alimentos e SENAC PR. Determinada, comprometida, comunicativa e com facilidade de relacionamento interpessoal. Gosta de desafios.
Enquanto psicóloga sua principal missão é estimular o desenvolvimento de pessoas que desejam ter uma relação melhor consigo mesmas, com suas escolhas e nas relações com os outros.
Fotografia | Daniel Zimmerman