Casa de Cultura Mário Quintana | Porto Alegre

Fotografia | Bárbara Seferin | @portoalegreioficial

Conheci a casa do “Mário”, se assim me permitem o chamar, há muitos anos com minha amigas Eliana e Rosane. A imagem daquele lugar jamais saiu da minha mente. Quando me deparei novamente com as paredes salmão do prédio, o encantamento deixou em mim um ar de saudade, pois ali viveu um dos maiores poetas e jornalistas de quem sou muito fã. Sigo com minha campanha “Conheça o Brasil”, temos muitos tesouros guardados e que nos emocionam demais em conhecer. 

Patrimônio histórico da cidade de Porto Alegre, a Casa de Cultura Mario Quintana tem seus espaços voltados para a divulgação da cultura rio-grandense.

Mário de Miranda Quintana, “poeta das coisas simples” ou  “poeta dos versos simples”, certamente é um dos mais queridos e populares escritores da literatura brasileira, com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela perfeição técnica, trabalhou como jornalista quase toda a sua vida. 

Nasceu em Alegrete/RS, em  30 de julho de 1906. Aos vinte anos mudou-se para a capital, Porto Alegre, onde permaneceu até a sua morte, no dia 05 de maio de 1994.  Não seguiu em direção ao eixo cultural Rio-São Paulo (normal para época) Quintana ultrapassou fronteiras ao ser nacionalmente reconhecido, embora não tenha conseguido ocupar o posto de imortal na Academia Brasileira de Letras. Porém não precisou vestir o célebre fardão para tornar-se imortal, todo o lirismo de sua obra encarregou-se de fazê-lo. E como nós o amamos!

Poeta das singelezas, deixou uma vasta contribuição para nossa literatura.

Mário Quintana foi também tradutor, é dele a tradução de dois clássicos da literatura: Em busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, e Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf e “Palavras e Sangue”, de Giovanni Papini. Foram mais de 130 obras da literatura universal traduzidas por ele.

Passados muitos anos de sua morte, continua presente no imaginário coletivo, dividindo o posto, ao lado de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu autores brasileiros mais citados e parafraseados na internet, sobretudo nas redes sociais.

Quintana era figura lendária da cidade de Porto Alegre, absolutamente identificado com as ruas e praças da capital gaúcha, lugar onde viveu grande parte de seus 87 anos. Na Praça da Alfândega, no Centro Histórico da cidade, foi esculpido em estátua ao lado do amigo, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Quintana não se casou, também não teve filhos e morou, entre os anos de 1968 e 1980, em uma das construções mais representativas da capital, o Hotel Majestic, prédio posteriormente adquirido pelo Governo do Estado para sediar a Casa de Cultura Mario Quintana. A visita a Casa é maravilhosa, podemos observar sua máquina de escrever, seu quarto com todos seus pertences pessoais e admirar arquitetura maravilhosa do local, com suas janelas, escadarias e corredores que conversam entre si. Recomendo para quando você passar pela capital gaúcha.

Obra Literária de Mario Quintana | Composta por mais de cinquenta livros, o primeiro foi publicado quando o escritor tinha 34 anos: A Rua dos Cataventos, um de seus títulos mais conhecidos, tem início sua carreira de poeta, escritor e autor infantil. O último livro, Velório sem Defunto, foi publicado quando o poeta já contava com 84 anos, em 1990. Faleceu em 1994, em decorrência de problemas cardíacos e respiratórios, deixando uma inestimável e singular contribuição para a literatura brasileira. O  lirismo dos versos do poeta, certamente despertarão sua vontade de mergulhar na obra do escritor.

Para quem gosta de Mário Quintana, reuni algumas curiosidades durante a leitura que fiz sobre o autor.  Aprecie:

  • Conhecido como o “poeta das coisas simples”, o escritor possuía um estilo marcado pela ironia, perfeição técnica e profundidade.
  • Mário Quintana foi expulso do Hotel Magestic, no centro de Porto Alegre, pois o jornal onde trabalhava, o Correio do Povo vei à falência. Ironicamente, anos mais tarde, o local transformaria-se na famosas “Casa de Cultura Mário Quintana”.
  • Dentre tantas obras, as de maior destaque são: Canções, 1945; O Aprendiz de Feiticeiro, 1950; Quintares, 1976; O Baú de Espantos, 1986; dentre outros.
  • Manuel Bandeira dedicou-lhe um poema, onde se lê:  Meu Quintana, os teus cantares | Não são, Quintana, Cantares: São, Quintana, quintanares. | Quinta-essência de cantares… | Insólitos, singulares… | Cantares? Não! Quintanares!
  • Uma de suas conquistas foi a publicação de Antologia Poética, no ano de 1966, com sessenta poemas, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e lançada para comemorar seus sessenta anos de idade.

É seu o famoso poema A Idade de Ser Feliz:

“Existe somente uma idade para a gente ser feliz.

Somente uma época na vida de cada pessoa
em que se pode sonhar e fazer planos,
e ter energia bastante para realizá-los,
a despeito de todas as dificuldade e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encontrar com a vida
e viver apaixonadamente,
com o entusiasmo dos amantes
e a coragem dos aventureiros.

Fase dourada em que se pode criar e recriar a vida
à imagem e semelhança
dos nossos desejos;
e sorrir e cantar, e brincar e dançar,
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e desfrutar de tudo com toda a intensidade,
sem preconceito nem pudor.

Tempo em que cada limitação humana
é só mais um convite ao crescimento;
um desafio a lutar com toda energia
e a tentar algo novo, de novo e de novo
e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão especial e tão única
chama-se presente

E tem apenas a duração do instante que passa…”

Casa da Cultura Mário Quintana | Rua dos Andradas, 736 | Centro Histórico | Porto Alegre – RS | http://www.ccmq.com.br/site/

(Visitada 385 vezes, 1 visitas hoje)