As Palavras de Jesus Cristo a Luz do Século 21

Fotografia: Leila Lindiana

Em tempos de Páscoa, somos tomados por um período de reflexão, nos voltamos a nós e a Deus e ele nos dá de novo a chance, a oportunidade de nos aproximar do recomeço, da vida, da paz e do amor. Deus estende sobre nós “suas asas”, se achega à nossa humanidade. Deus não quer que tenhamos “medo e nem receio” de manifestar nosso amor. Os quarenta dias de Quaresma significam que o Senhor nos dá um tempo de graça, um instante favorável, um momento em que nos faz experimentar seu amor para recomeçar. O verdadeiro significado da Páscoa é renascimento e com ele o poder transformador do Amor chega até nós!

A atualidade das mensagens registradas nos Evangelhos vão além das religiões. Podemos aplicá-las para viver melhor no conturbado mundo atual, diante de uma realidade de devastação ambiental, corrupção, desigualdade social, preconceito, fanatismo religioso e guerras, as palavras de Jesus podem nos ajudar a enfrentar o dia-a-dia.

Nada mais justo no Ano do Laicato, sob o tema: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino” com o lema: “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mateus 5,13-14) que nós cristãos leigos sejamos, de fato, missionários nas nossas relações, no trabalho e um reflexo do apaixonamento e seguimento a Jesus Cristo na nossa vivência no mundo.

O texto apresentado é baseado na interpretação as frases dos Evangelhos reconhecidos pelas igrejas cristãs: Mateus, Marcos, Lucas e João, as parábolas de Mateus e a um conjunto de textos sagrados, são de autoria de Ruy Cezar do Espírito Santo, educador, ex-vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e autor de vários livros.

JESUS: A palavra na Prática

 AMOR E ÓDIO | “Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Desse modo, vos tornareis filhos de vosso Pai, que está nos céus, porque Ele faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos.” Mateus, 5, 43 -45. Pedir para amar o inimigo elimina todas as divergências. Jesus não discriminou ninguém. Foi ao encontro da prostituta, do cobrador de impostos, do estrangeiro. A todos acolheu porque reconheceu que todos somos iguais. Mas, ao longo de séculos, fizemos exatamente o contrário: diferentes ideologias se afirmaram pela negação do “inimigo”. Durante a Segunda Guerra Mundial, a escalada do ódio conduziu a humanidade ao seu confronto mais devastador, ao final do conflito, em 1945, com a explosão da primeira bomba atômica, o homem colocou em risco a própria sobrevivência da espécie. No entanto, aquele episódio terrível talvez tenha sido também um momento de virada, pois trouxe consigo a criação de novas formas de cooperação, como a Organização das Nações Unidas e as primeiras organizações não-governamentais, nas quais as pessoas passavam por cima das barreiras nacionais e se associavam em prol do planeta. A aversão ao diferente, rotulado como “inimigo”, continua a fazer vítimas pelo mundo. Porém, a experiência das duas grandes guerras favoreceu nosso amadurecimento. Sabemos que não é esse o caminho. A consciência social avançou e precisa aumentar mais – é ela quem viabiliza o diálogo e o amor entre os povos.AUTOCONHECIMENTO | “Disse Jesus: se vossos guias vos afirmarem “eis que o Reino está no céu”, então as aves estarão mais perto dele do que vós; se vos disserem “eis que o Reino está no mar”, então os peixes já o conhecem. Pelo contrário, o Reino está dentro de vós e também fora de vós. Quando vos conhecerdes a vós mesmos, então sabereis que sois filhos do Pai, o Vivente. Mas, se não vos conhecerdes, então estareis na ilusão e sereis a ilusão”. Tomé, Logion 3. Nessa sentença, Jesus subverte nosso senso de identidade. Quem somos nós? Um pequeno “eu”, separado do Todo, em solidão inconsolável? Um pequeno “eu” que, por se sentir diferente, se engrandece diminuindo o outro e, perseguindo-o, alivia as próprias frustrações? Jesus nos propõe uma alternativa: diferenciarmo-nos desse pequeno “eu”, ferido e mesquinho, que parece tão real, mas é ilusório; e abrirmos para a manifestação do grande Eu, que não é outra coisa senão o próprio Reino dos Céus dentro de nós. Conhecendo a nós mesmos, realizamos nossa real identidade como filhos do Pai e irmãos de todas as criaturas.

CONSUMISMO | “Não ajunteis para vós tesouros na Terra, onde a traça e os carunchos os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus(…) Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro (…) Buscai em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo.” Mateus 6, 19 – 34.  Assim como nós, Jesus também viveu em um contexto marcado pelo materialismo, em que a riqueza de poucos contrastava com a pobreza de muitos, levando uns e outros a se preocuparem com a sobrevivência e o dinheiro. Sua mensagem não deve ser interpretada como uma negação do mundo e de suas necessidades, mas como um convite para que redirecionemos o foco. Com certeza, precisamos trabalhar e garantir o próprio sustento e de nossos dependentes. Mas não devemos fazer do trabalho uma prioridade nem do dinheiro um deus. Trabalho e dinheiro são meios de vida, e não a finalidade da vida. A confusão entre meios de vida, e não a finalidade da vida. A confusão entre meios e fins está a raiz do consumismo, da ganância e da corrupção, as grandes doenças da atualidade. Para achar a medida certa, Jesus nos convida a dirigir o olhar para um plano mais alto e a confiar na ação de uma Fonte que a tudo provê.

COMUNICAÇÃO | “Eis que o semeador saiu para semear. E, ao semear, uma parte das sementes caiu à beira do caminho, e as aves vieram e a comeram. Outra parte caiu em lugares pedregosos (…). Outra ainda caiu entre os espinhos(…). Outra parte, finalmente, caiu em terra boa e produziu fruto (…). Quem tem ouvidos ouça!” Mateus 13,4-9. No mundo atual, muitas vezes nos sentimos atordoados por uma avalanche de informações que não nos diz nada. A comunicação é uma via de mão dupla e seu sentido misterioso se manifesta nas entrelinhas e se pronuncia com maior eloqüência no silêncio do que nos sermões.Talvez por isso Jesus tenha nos falado por meio de parábolas, para que não pudéssemos aprisionar sua mensagem, mas que tivéssemos a oportunidade de recria-la a cada leitura. Podemos receber sua palavra com indiferença ou podemos oferecer-lhe o terreno fértil da consciência e permitir que frutifique.  

ECOLOGIA ÍNTIMA | “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo e semeou o joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu, apareceu também o joio. (…) Os servos perguntaram ao Senhor: “Queres, então, que vamos arranca-lo?”Ele respondeu: “Não,para não acontecer que, ao  arrancar o joio,com ele arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer (…). No tempo da colheita, direi aos ceifeiros: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado;quanto ao trigo,recolhei-o no meu celeiro”.” Mateus,13, 24 – 30. A humanidade tende a se dividir em dois blocos: os adeptos as idéias são o trigo; os opositores são o joio. A mensagem de Jesus não exclui ninguém e traz ao primeiro plano o homem com suas contradições e com sua liberdade. A lição que precisamos aprender é que o joio, que projetamos fora, encontra-se também em nosso interior. E só maturidade permite-nos diferencia-lo do trigo. Admitir que temos um lado mesquinho poderia nos ajudar na busca dessa sabedoria madura. Negar a existência dessa pequenez pode produzir efeitos desastrosos. Pior: aquilo que expulsamos com orgulho pela porta da frente tende a voltar sorrateiramente pela porta dos fundos.  

Fotografia | Leila Lindiana | 46 9 9974 1626

Locais: Igreja Santa Catarina – Bairro Industrial | Morro do Calvário | Francisco Beltrão/Pr.

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